24 de set. de 2010

Comunicado sobre as eleições

“Odeio os indiferentes também, porque me

provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes”.

Antônio Gramsci

Mais uma vez a dispersão se instalou entre as organizações políticas e os movimentos sociais brasileiros. Desafortunadamente, faltou às organizações de esquerda a capacidade de se unificarem em torno de um programa mínimo para o país, e uma proposta política que permitisse a plena participação das partes com igualdade e sem exclusivismos. Os partidos de esquerda, formalmente registrados, optaram por uma tática de autoconstrução, lançado candidaturas isoladas, movimentação que somente servirá para aguçar o isolamento entre os mesmos e o povo brasileiro. Falta senso estratégico. Mas, sobretudo falta maturidade política para solidificar convergências a esquerda. A possibilidade de afirmação de um programa político mais avançado, em sintonia com as demandas populares e com a construção de uma Pátria Livre e Soberana ainda é bastante fraca.

Duas candidaturas tomam conta do espaço da mídia empresarial. Uma candidatura marcadamente de direita, antipopular e anti-soberana representada pelo candidato do PSDB, José Serra. A outra candidatura social-liberal representada pela candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria ingênuo acreditar que estas candidaturas são iguais, porém, diante das necessidades materiais e políticas do povo brasileiro, nenhuma delas se orienta para a construção de um governo de caráter popular, isso é um fato. A proposta de Serra é de fato a mais prejudicial ao país e a América Latina, porque apostas no alinhamento direto com os EUA desprezando e mesmo atacando governos progressistas do nosso continente, em especial Bolívia e Venezuela. Serra significa o atraso em todos os sentidos. A candidatura de Dilma possui o papel de manutenção da atual política construída pelo governo Lula; significa manter os programas sociais, uma postura autônoma nas relações internacionais, porém irá também manter a alta lucratividade dos Bancos, o incentivo aos grandes industriais brasileiros, enfim irá ser um governo que governa para os capitalistas brasileiros ao mesmo tempo em que reserva uma pequena fatia de recursos para o povo pobre e miserável. Dilma é melhor do que Serra, mas não é o governo que o povo brasileiro precisa.

Diante deste quadro, surge uma outra candidatura entre os partidos de esquerda, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio. Sua candidatura a presidência significa uma proposta de constituição de um governo popular. Seu programa tem como prioridade as reformas sociais historicamente defendidas pelos movimentos sociais e as tão necessárias melhorias das condições de vida das famílias trabalhadoras deste país. Sua candidatura foi a que melhor defendeu a proposta de Reforma Urbana, para que se possa garantir o direito à cidade para todos e todas; é a que melhor representa a proposta de Reforma Agrária, uma vez que Plínio é um militante histórico da luta pela terra, e possivelmente a maior autoridade no assunto atualmente. Por fim, defende o socialismo, de forma clara e sem desvios. Por isso, defendemos e votaremos em Plínio de Arruda Sampaio para presidente do Brasil.

As Brigadas Populares reconhecem as dificuldades de escolha de candidatos em um cenário de dispersão da esquerda e dos movimentos sociais e populares. Nenhum partido contempla plenamente as necessidades políticas da atualidade. Porém, seria uma irresponsabilidade histórica se esconder por detrás das dificuldades e não indicar candidatos, que mesmo estando em partidos em que não temos acordo político, comunicam, de alguma forma, com as necessidades do povo trabalhador. Portanto, preferimos optar por candidaturas que assumem a luta pela reforma urbana e agrária, que se solidarize de forma sincera com as ocupações urbanas organizadas pelas Brigadas Populares e que tenham como princípio a defesa dos direitos dos trabalhadores.

Em Minas Gerais as eleições apresentam um quadro ainda mais complicado. O PSDB apresenta o candidato Antônio Anastácia para governo do estado, que representa um governo conservador contrário aos interesses dos trabalhadores. Junto com ele os dois senadores que compõe este mesmo projeto, o ex-governador Aécio Neves e o ex-presidente Itamar Franco. Esta chapa representa o “choque de gestão” contra o povo mineiro, e em favor das grandes empresas que os financiam. Este projeto deve ser recusado.

Outra candidatura reproduz um pragmatismo escandaloso do PT em Minas Gerais, que recuou na proposta de candidatura própria para se alinhar com um político de orientação conservadora, como o candidato ao governo do Estado, Hélio Costa (PMDB). Este foi Ministro das Comunicações do governo do PT e sempre representou os interesses das grandes empresas de comunicação, em especial a Globo. Sua gestão foi marcada pelo ataque contra as Rádios Comunitárias e as expressões populares de comunicação, criminalizando a rádio difusão comunitária. Mesmo tendo como candidato a vice-governador em sua chapa o ex-ministro Patrus Ananias, que procura dar uma fachada social para uma proposta de governo que nada tem haver com as verdadeiras necessidades do povo trabalhador mineiro.

Neste sentido as Brigadas Populares assumem o apoio á candidatura classista do candidato do PCB, Fábio Bezerra. Professor da Rede Pública Estadual, Fábio Bezerra é sindicalista e apoiador das lutas dos movimentos sociais e populares. Seu apoio sem ressalvas as ocupações organizadas pelas Brigadas Populares e seu diálogo honesto com as lutas que travamos, o credencia para ser um candidato que merece o apoio da esquerda mineira e dos movimentos sociais em luta concreta pela construção do poder do povo.

Mesmo não possuindo acordo político de nenhuma ordem com o PDT contemporâneo, optamos por apoiar um militante comunista histórico que hoje se encontra filiado a este partido. Apoiamos Sérgio Miranda para deputado federal, porque a trajetória parlamentar deste militante é, sem sombra de dúvida, uma das mais consistentes e responsáveis que a história parlamentar brasileira já teve. Sempre votou a favor das melhores propostas para os trabalhadores, luto ferozmente contra a contra-reforma da previdência que retirou direitos dos trabalhadores, sempre esteve ao lado das lutas populares, portanto temos claro que elegendo Sérgio Miranda, quem ganha é a classe trabalhadora brasileira, porque terá de fato um deputado com capacidade de intervir a favor dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.

Seguindo a mesma lógica apresentada acima, indicamos para deputados estaduais dois nomes. Durval Ângelo, candidato comprometido com a luta pelos direitos humanos no estado e que vem contribuindo com a luta antiprisional desenvolvida pelas Brigadas Populares. Também entendemos que o candidato Gerson Appenzeler, ou como ficou conhecido Chico Bento, ao ser eleito poderá prestar uma boa contribuição aos movimentos sociais na Assembléia Legislativa, pois assumiu todas as reivindicações apresentadas pelas BPs em sua proposta de campanha, além de ser um apoiador das lutas populares e urbanas de valor incontestável.

Para o senador, apoiamos os candidatos do PSOL e do PCB, pois os mesmos são candidatos que denunciam o projeto de Aécio Neves de construir no senado uma base política para disputar a presidência da república e retomar o velho e infeliz estilo tucano de governar. Por isso é necessário senadores comprometidos com as lutas.

Não cultivamos ilusões em relação ao alcance das eleições, enquanto não houver uma reforma política que estabeleça o financiamento público de campanha, nunca será possível que o povo de fato tenha maioria nos governos e casas legislativas. Também não podemos simplesmente desconsiderar as eleições e nos colocarmos como indiferentes ao que se processa no interior dos espaços de decisão política do país. O abstencionismo é claramente um desvio pequeno-burguês e individualista que se livra de tomar decisões difíceis e muitas vezes precárias e limitadas, para se manter na posição de ser puro. Tal postura não possui nenhum comprometimento com a vida real do povo brasileiro. É necessário se posicionar de forma clara e conseqüente; nos momentos mais difíceis é preciso tomar posição, por mais difícil que ela seja.

As Brigadas Populares estão empenhadas em atuar para que seja construído um campo mais amplo de esquerda no país, que nos liberte deste grande dispersão existente atualmente. Não basta analisar os limites hoje presentes na política, é necessário superá-los. É compromisso de todas as organizações e de todos os militantes honestos e comprometidos com o povo de nosso país a criação de uma alternativa política de esquerda em nosso país. Isso implica em manifestar a coragem e a ousadia para construir convergências estratégicas em torno de uma Frente política, e, sobretudo, necessária grandeza moral das direções dos partidos formalizados e não-formalizados, no sentido de superar o vanguardismo, a auto-suficiência arrogante, o exclusivismo para construir uma proposta política superior, que seja produto da construção coletiva de todas as organizações que hoje estão isoladas e dispersas. Este é o caminho que as Brigadas Populares está trilhando e quer dialogar com o povo e suas organizações e movimentos. Esperamos que com nossa dedicação, em um futuro próximo, poderemos unificar as lutas em todos os níveis e como expressão desta convergência, podermos de fato criar uma iniciativa real de disputa nas eleições e de fato polarizar o debate, organizar o povo e mudar o país.

Setembro de 2010

Brigadas Populares - Pátria Livre. Poder Popular


2 comentários:

  1. Marvilhoso !!!
    Concordo com todas as condidaturas expostas, seguindo o mesmo racicínio: pátria Livre, poder Popular!!! "Nos momentos difíceis é preciso tomar posição" ... E compartilharmos a mesma posição é o que abrilhanta a vida!

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  2. "O abstencionismo é claramente um desvio pequeno-burguês e individualista que se livra de tomar decisões difíceis e muitas vezes precárias e limitadas, para se manter na posição de ser puro".

    Fico com uma pergunta nada fácil. Que "desvio pequeno-burguês" é mais nocivo à auto-organização e à ação política em si? Corroborar os processos burgueses desta democracia (indo votar ou elegendo menos-piores, fazendo justificativas para programas desses grupos)? Ou cair no mais-do-mesmo da apatia eleitoral, por simplesmente crer que esses processos dizem respeito ao DESEJO de atuar sobre as instâncias da própria vida?

    Não concordo com essa afirmação de que abster é uma escolha "pequeno-burguesa" (fiquem atentxs a essa adjetivação pessimamente situada). Os períodos eleitorais de hoje já estão marcados pelo vazio que tem se tornado a política, e me parece que esse artigo força em apostar nas eleições como meio de atuação. Será que o próximo eleito à cadeira persidente se interessa em conter a onda de despejos que está por vir e abrirá mão dos supostos "benefícios" de uma cidade higienizada, autoritária, e do acentuado turismo que Copa promete? Eleições têm cartas marcadas, e essa conversa é a mesma há anos - o menos-pior, mesmo depois de dois mandatos Lula.

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