13 de mai. de 2010

Mais um dia de luta: moradores das ocupações permanecem acampados


Cerca de 400 pessoas dormiram ao relento na Praça 7, centro de Belo Horizonte, na noite de 11 para 12/05/2010. De madrugado, sob um freio danado, um grupo do povo das 3 ocupações acendeu uma pequena fogueira na Praça 7 para se aquecer do frio. Policiais chegaram e, de forma truculenta, chutaram o fogo. Um rapaz questionou policial por que agir com tanto desrespeito ao povo. Por que não dialogar primeiro. Um soldado (com nome identificado) apontou o revólver na cabeça do jovem. Esse abuso de autoridade e atitude de ditadura será levado à corregedoria de polícia. É inadmissível que policiais tratem pobres que estão lutando por direitos justos e sagrados como se fossem bandidos.
O povo levantou cedinho. Tomaram café. Fizeram Assembleia. Estão organizados em equipes de alimentação, de segurança, de saúde, de comunicação, de negociação, de apoio externo etc. Às 10:45h, recebemos notícia de uma vitória do Acampamento e da luta: Foi adiado na Corte Superior do Tribunal de Justiça de MG mais uma vez a conclusão do julgamento de Liminar, em Mandado de Segurança, que concede há 11 meses o direito de posse para as 887 famílias da Ocupação/Comunidade Dandara, no Céu Azul. O Desembargador Alexandre Víctor de Carvalho, que pediu vistas nos autos, ainda não concluiu o seu parecer, que certamente será favorável ao povo pobre de Dandara. Será um voto pela manutenção da posse às 887 famílias que ocupam quase 400 mil metros quadrados, no bairro Azul, em Belo Horizonte, onde já construiram mais de 600 casas.
O terreno ocupado era da Construtora Modelo; estava abandonado há 40 anos, sem cumprir a função social. Cumpre lembrar que a Construtora Modelo deve à prefeitura de BH mais de 2 milhões de IPTU e, ao lado da sua co-irmã, a construtora Lotus, enfrenta na justiça, como ré, 2.557 processos, pois já lesou milhares de mutuários.
Mais 3 ônibus de pessoas da Ocupação Dandara chegaram à Praça 7, às 11:00h para reforçar o Acampamento.
Ao 1/2 dia almoçaram. Uma rede de apoio solidário às 3 ocupações está garantindo a alimentação do povo. Às 13:00h, houve nova Assembleia e, em seguida, foi dado mais um abraço no Pirulito da Praça 7, interrompendo o trânsito por uns 15 minutos.
Depois, foi feita marcha pela Av. Afonso Pena até ao Tribunal de Justiça de Minas, onde encontraram com a Marcha dos servidores do Tribunal que estão em greve por melhores salários.
Voltaram marchando pela Av. Afonso Pena e, novamente, abraçaram o Pirulito da Praça 7, interrompendo o trânsito por mais uns 20 minutos. Reocuparam a Praça Sete, base do acampamento, onde reuniões foram feitas na 2a parte da tarde. Amigos e apoiadores ofereceram o jantar para as as 550 pessoas que ocupam, pelo 3o dia, a Praça 7.
Às 20:30h, após apresentação de grupos de capoeira, violeiros e parte da bateria da Escola de Samba Cidade Jardim, foi realizada uma vigília, com peregrinação pela Praça 7. Todos, com velas acesas, cantaram, rezaram, partilharam os motivos que os fazem estar firmes na luta, ouviram o evangelho e cantaram o Pai Nosso dos Mártires, de mãos dadas.
O povo das 3 ocupações permanecerá por tempo indeterminado acampado na Praça 7, coração de Belo Horizonte, esperando a resposta do Governador Anastasia sobre pedido de Audiência de uma Comissão das 3 Ocupações com o Governador. Nenhuma resposta foi dada ainda. Ofício foi encaminhado pedindo audiência. E através do cel. Teatini, lideranças das Brigadas Populares conversaram, via celular, com o secretário particular do Governador, o Martins, que ficou de dar uma resposta. O povo não deixará a Praça 7 enquanto não obtiver do Gabinete do Governador, por escrito, data e horário para reunião com a Comissão das Ocupações Dandara, Camilo Torres e Irmã Dorothy, onde estão quase 1.200 famílias que lutam para que o direito à moradia não fique apenas no papel da Constituição, mas caia no chão da vida do povo.
Amanhã, 4o dia da Marcha, dia 13/5, dia da abolição da escravidão, a luta continua na Praça 7 com Marchas pela Av. Afonso Pena e com manifestações no Pirulito da Praça 7.



Pela Brigadas Populares e Coordenação do Acampamento na Praça 7,
Frei Gilvander Moreira, às 00:35h de 13/05/2010.

Um comentário:

  1. Acho que o Frei Gilvander deveria pegar pelo menos umas três ou quatro famílias dessas e levar pra casa (mansão) paroquial que ele vive, já que ama tanto esse povo e luta por ele.
    Mais uma coisa, será que alguma dessas pessoas frequenta sua casa Frei.
    E mais outra coisa, vocês tiram essas pessoas de sua terra natal, dão a elas uma esperança e depois as jogam nesse barco furado. Tenha dó! Logo o senhor que se diz um sacerdote? Aí errado passa a ser da polícia (para-raio da sociedade) que tem que manter a ordem e garantir inclusive a sua segurança para não ser assaltado, ou ter a casa invadida por essas "vítimas". Se a Igreja Romana quisesse dava casa e estudo pra essa gente toda, dinheiro pra isto ela tem, aliás, o senhor devia era lutar por isto. Afinal o império que mais tirou renda desse povo foi a ICAR e as melhores universidades são de instituições canônicas (nem precisa dizer a quem pertence, não é). E pra encerrar, quero só dizer mais uma coisa: trabalho desde os meus 12 anos de idade, meu pai sustentou a família de cinco filhos com pouco mais que um salário mínimo. Nunca ganhamos nada, tudo que eu e meus irmãos temos foi comprado com suor do próprio rosto. Estudamos e conquistamos empregos dignos, nenhum de nós precisou invadir propriedade de ninguém ou ficou por aí esperando que o mundo tivesse dó por sermos coitadinhos excluídos. Quem mais tem excluído essa gente são pessoas como o senhor, ligadas a MST, Brigadas Populares, Pastoral da Terra e outros mais.
    Desculpe a sinceridade, mas é só um desabafo.
    CAS, BH. (Por favor não me excomungue).

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